Histórias de Amor e Realidade

[História]
Duas pessoas conhecem-se, descobrem afinidades, apaixonam-se e eis que nasce uma nova entidade: "A Relação". A relação é uma coisa viva, com vontade própria e que, com o tempo, pode decidir "correr bem" (CB) e fazer parte deste triângulo a vida toda ou "correr mal" (CM), conforme a sua vontade, e extinguir-se passado algum tempo.

Porque é que diferentes relações têm diferentes personalidades? Aturados estudos científicos apontam no sentido de que, nos casos CM, os amantes possam ter habituado a relação a uma dieta à base de paixão. Acontece que muitas vezes, com o tempo, os amantes (ou apenas um deles) se esquecem da receita.


Em casos de amnésia mais aguda alguns amantes chegam mesmo a esquecer-se de que já tiveram a receita e de que com ela cozinharam lindos momentos de paixão. Nestes casos, quando a paixão falta, o cisne canta e esta relação faz como a Veronika, ou seja, decide morrer. Os amantes, que nada podem fazer porque esta decisão é fruto do fundamentalismo gastronómico da relação, acabam, impotentes, a verem-se transformados em ex-amantes.

Aparentemente, nos casos CB o denominador comum é também a dieta. Estas foram habituadas a uma alimentação mais variada, logo, ficaram mais flexíveis. Como sabemos, quem demonstra o comportamento mais flexível tem mais hipóteses de sobrevivência. Nestes casos, se os amantes (ou apenas um deles) se esquecerem da receita da paixão, a relação vai-se alimentando de amor, humor, cuidado, amizade profunda, cumplicidade, momentos de spooning e momentos em pantufas. Nestes casos a relação, ainda que sobrevivendo à carência de paixão, queixa-se e reivindica-a. No entanto, e porque é flexível, dá aos amantes tempo de recuperarem a antiga receita ou até procurarem receitas novas. Em qualquer dos casos, a relação é externa aos amantes, ainda que nela eles depositem todas as esperanças de uma vida feliz a dois (ou mais, se pensarem em ter filhos).

Uma coisa muito importante, e que não foi ainda mencionada, é que a receita da paixão é detida em 50% por cada um dos amantes. Se um se esquecer da sua parte, a parte do outro serve para muito pouco. É muito frequente acontecer que o amante que se esqueceu da sua parte da receita… se esqueça que se esqueceu. Nestes casos, se o outro amante se lembrar de que o outro está esquecido, e quiser realmente reconstruir a receita da paixão para alimentar a relação, a coisa mais inteligente a fazer será alertá-lo e envolvê-lo no processo de rememoração ou mesmo na criação de nova receita. Segundo os tais aturados estudos, a criação de nova receita tende a ser uma solução muito eficaz no longo prazo, porque dá aos amantes a certeza de que podem criar, recriar e alterar a receita ao longo das suas vidas, sabendo que a relação vai ter sempre alimento.

[Fim de história]
Como sabemos “a relação” como entidade autónoma é algo que não existe. Existem duas pessoas. Só isso. Apesar disto, ouvimos frequentemente coisas como “a minha relação não está bem”. Quando começamos a referir-nos linguisticamente a uma terceira entidade – a “relação”, neste caso – corremos o sério risco de nos começarmos a dissociar da real situação e, consequentemente da nossa responsabilidade nela.

Podemos até fazer um louvável esforço, tentando sozinhos salvá-la (à “relação”), sabendo que, se não conseguirmos, pelo menos fizemos tudo o que estava ao nosso alcance o que, no máximo, poderá acabar por ser apenas um pensamento reconfortante. Diz-se que “tentar” é falhar com honra. Neste caso em específico, podemos acabar com um coração honrosamente partido. Assim, tentar "arranjar" sozinho aquilo que dois "estragaram" poderá ser uma boa receita… para o fracasso.

Quando nos dizem “a minha relação não está bem”, uma pergunta interessante que poderíamos fazer seria: “Exactamente quem é que não está bem? Tu? A(o) tua(teu) amante? Nenhum dos dois?”. Seja qual for a resposta a esta pergunta, a pergunta seguinte poderia ser: “e o que é que VOCÊS vão fazer acerca disso?” Porquê “vocês”? Porque se, no passado, duas pessoas decidiram aproximar-se, apaixonar-se e amar-se, não será lógico dar aos dois a possibilidade e a responsabilidade de fazerem tudo ao seu alcance para que isso se materialize?

Se imaginarmos uma daquelas canoas em que cada pessoa tem um remo de um dos lados. O que acontece se uma se esquecer de remar? O que farias tu, se fosses a outra? Tentavas remar sozinho? Deixavas-te ir à deriva? Ou pedias ajuda?
Quer isto dizer que devemos fazer tudo e mais alguma coisa para continuarmos uma vida em comum com determinada pessoa, só porque a escolhemos no passado? Certamente que não. Apenas se “valer a pena”. Para os dois. As pessoas mudam, e as intenções podem mudar com elas.

O que poderá ser óbvio é que, se a intenção inicial de comunhão se mantiver, as possibilidades dela se cumprir serão infinitamente maiores se ambos os amantes estiverem envolvidos no processo de potenciação dos sentimentos que normalmente os unem, como o Amor Profundo, Cumplicidade, Amizade e, (claro!) a Paixão e Sensualidade.

Acredito também que haja alturas em que recorrer a um Coach ou conselheiro externo poderá ser a melhor opção... :)

Que este seja um bom momento para pensar a(s) sua(s) relação/relações, num qualquer dia dos namorados (que pode ser amanha, 15 de Fevereiro) ;)

Pedro Martins, hipnoterapeuta, master practitioner e facilitador de mudança

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